Na contramão da expectativa do mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos recuou 0,9% no segundo trimestre de 2022 na comparação com o mesmo período em 2021, confirmando nesta quinta-feira (28) a entrada do país em recessão técnica.
Apesar do impacto inicial da expressão, especialistas alertam que uma recessão técnica é tão somente caracterizada por duas quedas consecutivas no PIB de um país, o que não necessariamente configura uma recessão econômica de fato. “Os Estados Unidos, no caso, tiveram uma queda de 1,6% no PIB do primeiro trimestre e agora, no segundo, eles registraram uma queda de 0,9%”, oficializando então a recessão técnica. “Mas uma recessão econômica tem a ver mais com uma desaceleração generalizada da economia”, afirmou analista de macroeconomia da Benndorf Research, Marco Ferrini.
Marco ainda acrescenta que, além dos níveis de atividade dos setores estarem em desaceleração, como é o caso atual dos EUA, uma recessão “verdadeira” também conta com a deterioração da renda per capita e a evolução do desemprego no país – não é o caso americano. “Os Estados Unidos estão com desemprego baixíssimo, em 3,6%. É um nível que a gente pode considerar até de pleno emprego”.
O recuo econômico do país se dá graças à inflação recorde e o consequente aumento da taxa de juros, que geraram pessimismo crescente nos consumidores. A inflação no país subiu para 9,1% no acumulado de 12 meses encerrado em junho de 2022, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI).
“O aumento de juros contribui para a desaceleração econômica dos Estados Unidos. De qualquer país, na verdade. Mas esses aumentos que o Fed vem promovendo são em taxas recordes. São taxas que a gente não via em mais de 20 anos. Então está sendo um aperto monetário muito forte, que impacta condições de crédito das pessoas, dificulta o consumo de bens duráveis e exacerba esse pessimismo”, acrescentou o analista.
O impacto na B3
A economia brasileira, como grande parte das economias mundiais, depende das importações e exportações dos EUA. “A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é muito forte. Os EUA foram o segundo principal destino das nossas exportações em 2021, e cerca de 14% de todas as nossas exportações vão para lá.”, afirma Marco Ferrini.
Ele ainda acrescenta que, no ano passado, as exportações totalizaram US$ 70,5 bilhões e foi o maior patamar da história desde o início da balança comercial brasileira, em 1997. “Entre os principais produtos que nós mandamos estão o ferro, o aço, o café, a madeira refinada, os combustíveis minerais e também tem alguma parte de produtos um pouco mais industrializados, como peças para equipamentos de construção civil, equipamentos mecanizados e aeronaves”. Além da parceria comercial, as decisões do Federal Reserve impactam o Brasil devido à solidez econômica norte-americana.
Logo, o impacto que a recessão técnica americana pode ter na B3 é a redução no fluxo estrangeiro, devido a um momento de muita insegurança e incertezas, tanto no cenário macroeconômico dos Estados Unidos quanto no cenário macroeconômico externo. Além disso, os efeitos da guerra na Europa colaboram com o aumento inflação. “O que a gente pode ver são os investidores mais receosos de entrar em mercados emergentes, que possuem instituições não tão sólidas quanto os mercados desenvolvidos, principalmente como os Estados Unidos” comenta Marco. Ele ainda acrescenta que “as pessoas podem ter uma preferência, nesse momento, pela renda fixa ao invés da renda variável, porque é um momento de aperto monetário.”
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Apesar do temor, o momento atual está distante das crises americanas anteriores, ressalta Marco. “A grande diferença entre essa recessão e as recessões anteriores é que, por enquanto, a gente está numa recessão técnica”. Em linhas curtas, significa apenas que o PIB contraiu por dois trimestres consecutivos. “Mas está longe de ser comparado ao que foi 2008, por exemplo, em que a gente viu o aumento forte do desemprego, a queda brusca na renda das pessoas, o nível de falências”, completa.
A economia americana, apesar da queda do PIB, de acordo com o analista da Benndorf, segue muito sólida quanto ao desemprego, atualmente em 3,6%, podendo ser considerado com um momento de emprego pleno. Além disso, a renda da população continua em ritmo de crescimento e a demanda por trabalhadores segue elevada.