Isabela Jordão
A possível fusão entre Gol [GOLL4] e Azul [AZUL4] está de volta aos holofotes. O acordo deve acontecer ainda em 2024, segundo uma reportagem divulgada na última sexta-feira (11).
O negócio já vinha sendo especulado desde abril, três meses após a Gol pedir recuperação judicial nos EUA. O potencial da operação para melhorar o cenário das companhias aéreas no Brasil, entretanto, é bem limitado.
Com a fusão, o impacto seria “menos pior” que o fim de qualquer uma das duas companhias, comentou Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital. Mesmo assim, a compra de uma pela outra seria ruim no absoluto, uma vez que reduziria a concorrência entre Gol e Azul – algo benéfico para os consumidores.
De todo modo, trata-se de “uma quebrada comprando a outra falida”. Para o especialista, a aquisição não resolve o grande problema das companhias aéreas do Brasil, “e não anula o risco de, em poucos anos, as empresas fundidas voltarem a ter problema”.
Ao longo do ano, a Azul chegou a acordos comerciais com arrendadores e detentores de títulos de dívida (bonds) da companhia, entre outras medidas, para reorganizar as contas. Ela e a Gol iniciaram em julho um acordo de cooperação comercial para compartilhamento de voos.
Para Bruno Corano, a situação atual é mais uma página triste da história da aviação brasileira. Década após década, comenta, o setor confirma ser absolutamente instável, cujas empresas não conseguem ter longevidade.
Olhando a história da aviação nacional, Corano observa que, mesmo antes da Varig e, depois dela, TransBrasil, VASP e assim por diante, “a gente vê que todas as empresas têm prazo de validade”. Ele descreve a Gol como uma tristeza ainda maior, por ser uma empresa jovem, fundada em 2001, e ter origem em um grande grupo econômico
“Esperava-se que ela pudesse ser diferente.”
É justamente GOLL4 que pode apresentar reação mais positiva no curto prazo caso a fusão saia do papel, diz Marco Saravalle, sócio e CIO da MSX Invest. Ele vê chance real do acordo acontecer, embora se trate de um setor bastante complexo e uma operação que demandaria soma expressiva de capital.
“Tem diversas variáveis para serem resolvidas. Uma delas são certamente os órgãos reguladores”, que precisam aprovar a transação. Afinal, a junção das duas empresas deixaria o mercado ainda mais concentrado, portanto fica a questão se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vai enxergar formação de monopólio ali.
Ademais, a estrutura financeira da Azul, apesar do progresso recente, ainda deixa a desejar. “Já melhorou bem, mas acho que não tem ainda todas as condições para fazer esse movimento”, analisou Saravalle.
A maior incógnita do assunto até agora, todavia, é o que vai ser do consumidor. Potencialmente prejudicados pela redução da concorrência, os clientes seriam igualmente lesados caso a Gol simplesmente encerrasse as operações.
O mercado de ações é outro mistério. A desvalorização dos papéis do setor não é exclusividade do Brasil, estendendo-se até os EUA. No entanto, especular sobre a valorização das ações a longo prazo é fator que ultrapassa a mera decisão entre duas empresas. Os gestores que o digam.