Uma ação sobe 100% em um dia, repetindo a dose no seguinte. Estranho? Sim. Frequente? Também. Tanto que no mercado financeiro, isso tem nome: short squeeze. Foi o caso da Ambipar [AMBP3] e de uma série de outros papéis em 2024 – principalmente em agosto.
Existem papéis azarões. Aqueles que todo mundo tem absoluta certeza de que vai se desvalorizar, e, por isso, investidores se sentem à vontade para vender a descoberto. Entretanto, às vezes acontece uma alta inesperada. Alguém – ou alguns – começam a comprar o papel de modo a causar uma subida que contraria todos os vendidos.
É aí que começa realmente o short squeeze. Os vendidos se veem obrigados a recomprar as ações para desfazer as vendas a descoberto, acentuando ainda mais a alta da cotação do ativo. Toda a situação geralmente se dá em um curto espaço de tempo, alguns dias.
Em alguns casos, como o da Bolha do Alicate, em 2008, e o short squeeze da GameStop, em 2021, a alta se estabiliza por algum tempo, até que os primeiros compradores se satisfaçam com o percentual de valorização e comecem a realizar os lucros, ocasionando outro efeito cascata.
De acordo com Rodrigo Miranda, criador da Universidade do Bitcoin (UniBtc), as ferramentas de trading disponíveis hoje, como gráfico de calor, de liquidez, e identificadores de sobrecompra ou sobrevenda concedem maior noção de onde a maioria dos stop loss estão posicionados, o que permite identificar short squeezes.
Uma vez que se presencia um short squeeze, a principal recomendação é manter distância, diz o especialista. “A postura mais sensata que o investidor deve ter para não cair nessa cilada é evitar fazer trades com alta alavancagem e margem acima do recomendado. Pessoas que estão iniciando no mercado ou que têm pouca experiência, o ideal é que não opere com venda a descoberto, não opere fazendo shorts”, pois é muito mais arriscado.
Quem opera com alta alavancagem e margem acima do recomendado encara um grande risco de ter a sua conta liquidada ou quebrar a conta e perder todo o próprio dinheiro, completou o especialista.
A legislação brasileira e as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) permitem a operação da venda a descoberto e estabelecem regras de transparência e proteção para investidores, mas não impedem diretamente a prática de short squeeze, explica André Vasconcellos, professor da Trevisan Escola de Negócios.
“A CVM regula para garantir a integridade e o funcionamento ordenado dos mercados, mas intervenções diretas em eventos de short squeeze são raras”, detalha. “Em casos de manipulação de mercado, quando um grupo de investidores organiza ações com o propósito deliberado de influenciar o preço de um ativo, a CVM pode investigar e penalizar os envolvidos, mas a ação é limitada a casos de manipulação intencional comprovada.”
Assim, o short squeeze continua sendo um movimento legítimo no mercado, desde que não haja manipulação intencional, podendo ocorrer naturalmente como consequência das dinâmicas de oferta e demanda entre comprados e vendidos em um ativo, acrescentou André.
Os desafios regulatórios em torno do short squeeze giram principalmente em torno da proteção dos investidores, da transparência e da integridade dos mercados. Afinal, o fenômeno pode acarretar prejuízos consideráveis aos investidores e até ameaçar a estabilidade de empresas de capital aberto. “No entanto, diferenciar o short squeeze natural, resultado das dinâmicas de mercado, de práticas manipulativas orquestradas é um dos principais desafios regulatórios para órgãos como a CVM.”