O Copom divulgou hoje a ata da última reunião, em que os membros optaram de forma unânime pela estabilidade da taxa de juros em 10,50% a.a. O Comitê continua com uma avaliação de adversidade elevada no cenário externo, em função da incerteza alta e persistente sobre o ciclo de flexibilização da política monetária americana e da velocidade com que se observará a queda da inflação em diversos países.
Já internamente, o mercado de trabalho e os indicadores de atividade econômica continuam apresentando mais
dinamismo do que o esperado, com destaque para a formação bruta de capital fixo e o consumo das famílias, ambos sustentados em grande parte pelo mercado de trabalho, benefícios sociais e pagamento de precatórios.
Ao mesmo tempo, ainda não é possível ter ideia dos impactos da tragédia no Rio Grande do Sul. No mais, o Copom afirma que a inflação tem apresentado trajetória desinflacionária, mas as medidas subjacentes se situaram acima da meta nas divulgações mais recentes.
Ainda, de forma unânime, os membros concordaram que a reancoragem das expectativas de inflação deve ser perseguida e é um elemento essencial para a convergência da inflação para a meta, exigindo uma atuação firme da autoridade monetária. De todo modo, os dados referentes à inflação sugerem uma trajetória que não divergiu muito do que era esperado pelo Comitê.
Alguns membros se mostraram mais preocupados com a inflação alimentar no curto prazo, destacando as enchentes no Rio Grande do Sul e revisões nos preços em outras regiões, mas a inflação de serviços foi a que seguiu como principal tema de debate, visto que é esperado que as inflações de bens industriais e alimentos contribuam menos para a trajetória desinflacionária.
Nessa reunião, o Copom debateu sobre as estimativas da taxa de juros neutra que seriam utilizadas como hipótese para as projeções e decidiu elevar marginalmente a mesma para 4,75% em seus modelos, mas também avaliou cenários com taxa neutra entre 4,5% e 5%.
Novamente, a autarquia reiterou que a falta de compromisso no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, prejudicando a política monetária e aumentando o custo da desinflação.
Em meio ao cenário analisado, o Comitê optou de forma unânime pela manutenção da Selic em 10,50% e avaliou que a política monetária deve se manter contracionista por mais tempo para consolidar o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas.
A decisão do Copom vai na contramão das nossas expectativas de manutenção do ciclo de redução de 0,25%, mas o ponto positivo é que houve unanimidade entre os membros, algo que não aconteceu na reunião passada e gerou desconforto no mercado sobre um possível posicionamento político dos diretores.
Entendemos que o cenário atual é de incerteza acentuada, marcada principalmente pelas questões acerca do ciclo de afrouxamento da política monetária americana, pelo desempenho melhor da economia nacional, pelas enchentes no Rio Grande do Sul e pelo embate constante entre as alas políticas e o BC, fatores que podem prejudicar a trajetória desinflacionária e consequentemente levaram o Comitê a optar pela pausa no ciclo de cortes.
Sendo assim, precisamos reavaliar nosso cenário para poder prever a taxa básica terminal de 2024, mas seguimos otimistas com a economia brasileira e projeção de crescimento de algo em torno de 2% e inflação dentro do intervalo da meta