O governo Biden publicou um amplo conjunto de controles de exportação na última sexta-feira (07), incluindo uma medida para cortar a China da cadeia de suprimentos de chips fabricados em qualquer lugar do mundo com equipamentos dos Estados Unidos.
A decisão expandiu amplamente o alcance norte-americano em sua tentativa de desacelerar os avanços tecnológicos e militares de Pequim e derrubou ações do setor nas bolsas europeias e chinesas.
As duas superpotências já disputam o acesso aos semicondutores há um tempo, sendo esse, inclusive, um dos principais motivos das tensões envolvendo ambas e Taiwan. Contudo, a surpresa desta vez foi o alvo das restrições.
Em vez de visar apenas empresas específicas, como a Huawei, uma gigante multinacional chinesa, as novas restrições exigirão que companhias norte-americanas garantam licenças para exportar certos chips usados em inteligência artificial e supercomputação, bem como equipamentos usados na fabricação avançada de semicondutores.
Este último inclui equipamentos usados para fabricar chips de memória, uma área na qual as empresas chinesas vêm fazendo incursões.
Faturamento trimestral de equipamentos semicondutores em dólares (Fonte: WSJ/SEMI)
A natureza abrangente das restrições, que vão muito além das medidas anteriores, que se concentravam principalmente em empresas individuais e uma lista mais restrita de tecnologias, é um sinal claro de que a guerra de chips entre as grandes economias globais está aqui para ficar.
As regras, algumas das quais têm efeito imediato, baseiam-se em cartas enviadas este ano para os principais fabricantes de semicondutores, como a KLA, Lam Research e Applied Materials, exigindo interrupção das remessas de equipamentos para companhias de propriedade totalmente chinesa que produzem chips de lógica avançada.
A série de medidas pode representar a maior mudança na política dos EUA em relação ao envio de tecnologia para o país asiático desde a década de 1990. Se forem eficazes, elas podem atrapalhar a indústria chinesa, forçando empresas de todo o mundo que usam tecnologia americana, a cortar o suporte para algumas das principais fábricas e designers de semicondutores da China.
“Isso atrasará os chineses em anos”, disse Jim Lewis, especialista em tecnologia e segurança cibernética do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), que afirmou que as políticas remontam aos rígidos regulamentos do auge da Guerra Fria.
Os EUA também adicionaram a Yangtze Memory Technologies, principal fabricante de chips de memória da China e um potencial fornecedor da Apple em sua “lista não verificada”, que também conta com outras 30 empresas.
A lista não proíbe as companhias americanas de lidarem com essas empresas, mas adiciona maior supervisão aos contatos entre elas e envia um alerta de que podem acabar entre o “portfólio de proibidos” do governo se as preocupações com seus negócios continuarem a crescer.
Além das exportações de chips e equipamentos, as novas restrições também estão atentas à fuga de cérebros. As novas regras proíbem cidadãos, residentes permanentes e empresas dos Estados Unidos de ajudarem chineses na fabricação de chips, impedindo assim a emigração de talentos.
“O resumo é que os EUA estão desestruturando fortemente toda a cadeia de suprimentos de tecnologia avançada antes que a China a abasteça”, escreveu o analista independente de semicondutores Dylan Patel em seu boletim no sábado (08).
Após a repercussão da notícia, as ações chinesas de chips caíram nesta segunda-feira. A maior fabricante de chips da China, Semiconductor Manufacturing International, desvalorizou 4% em Hong Kong. A Naura Technology Group, listada em Shenzhen, teve queda de 10%, o movimento diário máximo permitido na bolsa, depois que uma de suas unidades foi adicionada à “lista não verificada”.
Os papéis de fornecedores de equipamentos de chips dos EUA também caíram na sexta-feira. Lam Research e Applied Materials recuaram 6%. Ambas obtêm quase um terço de sua receita na China.
(Com Dow Jones NewsWire e Reuters)