O mercado financeiro de dezembro não é o mesmo de abril. Parece óbvio quando se comparam as cotações do Ibovespa em ambas as datas, porém o que impressiona é como as perspectivas dos agentes mudaram da água para o vinho em pouco mais de um trimestre.
Há um novo cenário agora, totalmente distinto do esperado no fim do ano passado, e que torna necessário repensar as próprias escolhas de investimentos, abordou Max Bohm, estrategista de investimentos da Nomos, na última quinta-feira (26).
“Não foi só uma questão de Brasil, foi uma questão de mercados emergentes”, disse em live transmitida no canal da empresa. 2024 tem sido um ano de intensa volatilidade, com saída de capital estrangeiro dos mercados emergentes.
O Brasil sofreu de modo especial. Além das mudanças no mercado externo, “tivemos também nossas jabuticabas”, que reforçaram a perda de interesse do gringo no mercado local e geraram neste o pior desempenho entre os pares emergentes em bolsa e câmbio.
Recapitulando
O ano passado terminou com altas expectativas. Com os dois últimos meses de 2023 apresentando ótimo desempenho da Bolsa brasileira, decorrentes de um fechamento da curva de juros dos EUA – por sua vez, proveniente da expectativa do início de corte das taxas em 2024.
E qual foi a pedra no caminho? “A gente foi muito surpreendido pelos dados econômicos nos EUA”, responde Max. Os números do PIB, índices de gerentes de compras (PMI), inflação ao consumidor (CPI) e gastos com consumo (PCE) vieram sequencialmente acima do previsto.
O problema é que dados positivos são surpresas negativas quando a busca é pelo início de um corte de juros na configuração econômica atual dos EUA. Assim, instaurou-se a perspectiva “o famoso higher for longer” – juros estabilizadamente altos por mais tempo.
No mercado financeiro, tudo é sobre previsões. E, se 2023 terminou com expectativa de início da flexibilização monetária pelo Federal Reserve logo no primeiro trimestre neste ano, agora até mesmo o início dos cortes em setembro é uma incógnita.
Preocupações adicionais
Não bastassem os dados mais fortes da economia dos EUA, há conflitos geopolíticos no radar. Além da infeliz continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, houve o escalonamento da tensão no Oriente Médio, com o envolvimento do Irã no conflito com Israel.
As perdas humanas são incontáveis. No mercado, entretanto, o impacto se traduz na valorização de commodities como o petróleo. O minério de ferro também voltou a subir, influenciado pela retomada de atividades em siderúrgicas chinesas. O encarecimento de matérias primas sempre resulta em aumento da inflação global.
Quanto às “jabuticabas” exclusivas do Brasil, nas palavras de Max, a mudança na meta fiscal para 2025 pressionou ainda mais o apetite ao risco pelo mercado nacional. “Eu diria que o grande vilão que mexeu com câmbio e com a bolsa foi o risco fiscal, que afetou muito os juros futuros”, sintetizou o especialista.
A curva de juros interna bateu 12% em abril, após marcar 10,5% nos três meses anteriores.
O Banco Central já sinalizou que talvez não haja espaço para a Selic cair a 9%. A tarefa é no mínimo complicada se os juros americanos não caírem nos próximos meses. Servindo de aviso, os juros da Treasury de 10 anos – principal marcador dos juros futuros dos EUA – registrou um rali nos últimos quatro meses, de 4,20% para 4,71% em abril.
Tradicionalmente vistos como “a mão que balança o berço” do mercado global, os juros futuros americanos afetaram a renda variável no mundo inteiro, uma vez que provocaram um fluxo de retorno do capital global para a renda fixa dos EUA.
O portfólio adequado para o momento atual
Juros altos por mais tempo significam valuation das companhias a um valor presente menor, além de efeitos práticos negativos para estas. De acordo com Max, os múltiplos dos índices da B3 estão atualmente perto das mínimas históricas, incluindo a relação preço/lucro de todas as companhias da Bolsa.
O indicador aponta quanto o mercado está disposto a pagar por um ativo em relação ao lucro esperado como retorno. Quanto maior o número, maior é a expectativa sobre o crescimento da empresa em questão. Em suma, “quanto menor esse múltiplo, mais barata está a bolsa”.
Atualmente, os P/L estão abaixo da média. No caso do Ibovespa, a média dos últimos dezenove anos é 10,8, enquanto o atual é 7,9. Para o índice de small caps (SMLL), a diferença é mais gritante: da média de 15 para atuais 8,1.
“Não tem como não ter small caps no portfólio”, defende Max. Ele compreende a necessidade de reduzir exposição a empresas do tipo ante os desafios do cenário presente, mas distingue a redução do sair completamente de um ativo.
Para se enquadrar à nova configuração do mercado atual, o especialista aumentou a exposição de sua principal carteira elaborada para a Nomos – a Max Ações – às commodities, para 29% do portfólio total. Prio [PRIO3], 3R Petroleum [RRRP3], Gerdau [GOAU4] e Aura Minerals [AURA33] são boas escolhas para o momento.
A nova configuração setorial da carteira mantém 24% da alocação no setor financeiro, porém reduziu as posições nos setores de construção civil, tecnologia, varejo e logística. Ainda assim, Max sustenta um percentual de participação em companhias como Grupo Soma [SOMA3], Simpar [SIMH3], Iguatemi [IGTI11] e Allos [ALOS3].
O especialista, aliás, vê como irracional a desvalorização recente de papéis como Grupo Mateus [GMAT3], Cyrela [CYRE3] e LWSA [LWSA3]. “São boas oportunidades e, para mim, caíram exageradamente em abril”.
Promovido pela Nomos Investimentos
Com um portfólio equilibrado, a Carteira Max Ações tem superado o Ibovespa. Elaborada por Max Bohm, a carteira é uma seleção de ativos diversificados e de fundamentos sólidos.
Assista à live completa: