Blue chips, ex-queridinhas e “micos”. Variedade não falta entre as 10 ações da B3 com maior número de acionistas em 2022, as quais traduzem igual diversidade entre os perfis de investidores mais influentes na bolsa brasileira.
Os papéis de Itaúsa [ITSA4], Magazine Luiza [MGLU3], Petrobras [PETR4] e Banco do Brasil [BBAS3] tinham, respectivamente, 830 mil a 630 mil investidores posicionados ao longo do ano passado.
Já as ações da Oi [OIBR3] tinham mais acionistas que a Vale [VALE3], mas ambas à frente de Via [VIIA3], Bradesco [BBDC4], Taesa [TAEE11] e WEG [WEGE3]. Os seis ativos compunham a carteira de 470 mil a 364 mil traders em 2022.
Saber a diferença entre ativos de maior retorno para o longo prazo e os mais líquidos para day trade não é tarefa simples. Para ajudar na distinção entre os 10 papéis com mais acionistas na B3, o TradeNews consultou o analista técnico da Benndorf Filipe Borges e compilou análises fundamentalistas da mesma casa de research.
Itaúsa [ITSA4]
Com suporte na região de R$ 8,10 e resistência em R$ 8,80, o preço das ações preferenciais da Itaúsa “segue bem travado nas duas últimas semanas”, de acordo com Filipe Borges.
Para swing trade, um fechamento abaixo de R$ 8,14, acompanhado de aumento de volume, abre espaço para operações de venda. O alvo principal ficaria em R$ 7,05, mas a cotação tem espaço para cair até R$ 7,80.
Quanto aos investimentos de longo prazo, Goldman Sachs, Credit Suisse, Citi e JP Morgan são unânimes ao recomendar a compra de ITSA4.
A Benndorf, conforme dito em outubro passado, enxerga o DY de Itaúsa acima de 5% para 2023, dada a maior posição de liquidez recente e o fato de que a holding não possui grandes investimentos até então, o que deve gradualmente trazer o payout da companhia de volta para a média histórica de 40% nos próximos anos.
Magazine Luiza [MGLU3]
A ex-queridinha do varejo traçou forte oscilação positiva no curto prazo, “mais de 75% de alta nas últimas semanas”. Filipe também menciona a redução no volume nos últimos dias.
A cotação de MGLU3 “tem uma forte resistência na faixa de R$ 5, mas parece ter encontrado uma outra região de resistência em R$ 4,70”.
Se estivesse posicionado no ativo, Filipe levaria o stop, para proteção do lucro, a R$ 4,19. “Para novas compras, eu aguardaria só um fechamento acima dos R$ 4,70 com muito aumento de volume”.
O Citi tem recomendação neutra para Magazine Luiza, com preço-alvo em R$ 4,80 – meio-termo entre as resistências apontadas pelo analista da Benndorf. Já o Goldman Sachs, Credit Suisse e JP Morgan sustentam recomendação de compra para as ações.
Via [VIIA3]
A antiga Via Varejo tem cotação consolidada entre R$ 2,19 e R$ 2,60, com volume baixo de negociação. Filipe não vê VIIA3 como melhor papel para se posicionar no momento, para compras ou vendas.
Possíveis operações, prossegue o analista, “se fechar abaixo de R$ 2,19 com o aumento de volume, vejo a oportunidade de venda”. Na ponta contrária, “se fechar acima de R$ 2,65 com muito volume nas compras, vejo a oportunidade de compra com alvo em R$ 3,25”.
Junto com Magazine Luiza, a Via é outra entre as gigantes do e-commerce que não mantiveram no pós-pandemia o prestígio sustentado na bolsa brasileira em 2020. Para este ano, o setor ainda deve encarar a inflação contínua — que ainda não deu sinais significativos de trégua no Brasil ou no mundo – e, por consequência, da Selic elevada.
Petrobras [PETR4]
No curto prazo, Petrobras segue em tendência de alta. As ações preferenciais da estatal, analisa Filipe, apresentam topos e fundos ascendentes, “porém, na última movimentação, o ativo não apresentou bom volume também”.
O profissional cita a redução generalizada de fluxo nos últimos dias, “então liga o sinal de alerta para abrir novas posições, principalmente de tendência”.
PETR4, prossegue, tem um suporte “muito bem montado” na região de R$ 23,80, “que é onde eu colocaria o stop caso estivesse posicionado pra um swing trade”. Para novas compras, Filipe recomenda aguardar fechamento acima de R$ 27,50 com um volume bem acima da média, “bem superior aos candles anteriores”.
Em tal cenário, a recomendação do analista é compra com alvo em R$ 30 e alvo final em R$ 31,85.
A nova gestão da Petrobras é o principal foco dos investidores de longo prazo. Desde o período eleitoral, potenciais ingerências na companhia preocupam analistas.
O novo presidente da estatal, o ex-senador Jean Paul Prates, em discurso após ser aprovado para o cargo, declarou que sua gestão vê a empresa como “grande” e capaz de alavancar o desenvolvimento econômico e social nos locais em que ela tem negócios.
Banco do Brasil [BBAS3]
Recentemente, “BBAS teve a melhor performance entre os bancos”, afirma Filipe Borges. A cotação foi de um fundo de R$ 32,60 para R$ 41, uma valorização em torno de 26%.
O movimento, entretanto, não significa oportunidade. Para o analista da Benndorf, a ação do Banco do Brasil se encontra em uma região mais de alvo, “ou seja, quem comprou surfou a movimentação, quem está de fora deve aguardar uma correção um pouco mais saudável”.
O especialista enxerga alvo na região de R$ 42 para quem já está posicionado, com alvo final em R$ 43,40. “Para proteção dos lucros, colocaria um stop abaixo de R$ 38,85”, acrescenta.
O Banco do Brasil possui fundamentos sólidos para a Benndorf Research, com retorno sobre patrimônio acima de 20% e resultados superiores aos dos pares privados. Apesar dos temores do mercado quanto ao novo governo, os papéis são uma boa opção de investimento na visão da casa.
“Além disso, dada a baixa inadimplência, a companhia vem aumentando sua exposição a créditos mais arriscados, que possuem melhores margens, o que é sustentado por um índice de cobertura que é o maior entre os grandes bancos”, afirmou Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf, em dezembro.
Oi [OIBR3]
Um dos “micos” mais famosos da B3, OIBR3 disparou mais de 125% nos últimos dias, “e agora parece que o ativo abre espaço para uma possível realização, uma possível correção”.
Filipe descreve o estabelecimento de um suporte do papel no gráfico de 60 minutos, “onde eu vejo como melhor movimentação para tentar trabalhar em R$ 1,88”. Caso estivesse posicionado, o stop do analista estaria abaixo de R$ 1,88.
Se a ação da Oi fechar abaixo de R$ 2,05 com aumento de volume, há possibilidades de operação na ponta vendedora.
Quanto ao longo prazo, nenhum player tem cobertura ativa para Oi, sugerindo ausência de fundamentos. A companhia encerrou em dezembro o processo de recuperação judicial iniciado em 2016. Entretanto, a operadora de telecomunicações entrou com pedido de proteção contra credores na última quarta-feira (01), preparatório para novo processo de RJ.
Vale [VALE3]
As ações da mineradora atingiram a região de resistência principal, na faixa de R$ 98,20, com aumento de volume. “Ou seja, os vendedores até o momento ganharam a briga nessa região de resistência”, explica Filipe.
O analista só vê oportunidade de novas compras caso VALE3 feche acima dos R$ 98,18 com aumento de volume. “Caso contrário, o ativo, para mim, poderia corrigir sim até a região de R$ 92 ou R$ 88, onde procuraria novas oportunidades de compra”, finaliza.
Enquanto Citi, Credit Suisse e Goldman Sachs não têm cobertura para a companhia, o JP Morgan recomenda compra de VALE3, com preço-alvo em R$ 109.
Bradesco [BBDC4]
As ações preferenciais do Bradesco se encontram “em uma região de suporte bem importante” na análise gráfica, entre R$ 13,50 e R$ 15,40. Contudo, Filipe Borges descreve o volume de negociação do ativo como muito fraco.
Sendo assim, ele enxerga operações de venda caso BBDC4 feche abaixo de R$ 13,55 com aumento de volume. “Para compras, eu preciso ver uma reversão positiva ainda”, acrescenta.
Quanto ao longo prazo, o Bradesco pagou dividendos nos doze meses do ano entre 2013 e 2022. Todavia, apenas JP Morgan e Goldman Sachs recomendam compra de BBDC4, enquanto o Credit Suisse tem recomendação “underperform”, equivalente a venda.
Taesa [TAEE11]
As units da Taesa estabeleceram suporte em torno de R$ 32,60. Filipe classifica o desempenho de TAEE11 como uma ótima valorização para o setor de transmissão de energia, “lembrando que é um setor mais defensivo historicamente dentro do nosso mercado”. A resistência agora é de R$ 37,70.
O analista gráfico enxerga alvo em R$ 37,80 para compras em TAEE11. Filipe recomenda stop de ganho abaixo dos R$ 35,25 para quem já está posicionado na compra do ativo, a fim de proteger os lucros.
Para quem é investidor buy and hold, como dito no início da reportagem, a Taesa é conhecida por ser uma pagadora consistente de proventos. Todavia, JP Morgan e Credit Suisse têm recomendação equivalente a “venda” para as units, enquanto Citi e Goldman Sachs não têm cobertura para a companhia.
WEG [WEGE3]
A Benndorf retirou WEGE3 da jogada para trades recentemente. Primeiramente, justifica Filipe Borges, porque “quando você olha num gráfico semanal, o ativo está em um padrão técnico chamado ‘padrão de alargamento’”, o qual sugere vendas de desvalorização de WEGE3 nas próximas semanas. Em tal cenário, o alvo é o suporte principal, em torno de R$ 22,60.
Com o ativo hoje em torno de R$ 38, Filipe vê espaço para abertura de posições vendidas a partir de um fechamento abaixo de R$ 37, acompanhado de aumento de volume. “Se a gente tiver esse fechamento, vai ter um suporte intermediário em R$ 35,70, que, se perdido, abre espaço para uma correção pelo menos até os R$ 31.”
Fundada em 1961, a WEG é uma das maiores fabricantes de bens industriais da América Latina e uma das maiores produtoras de motores elétricos de baixa tensão do mundo.
“Ela é conhecida por ser uma empresa bastante eficiente, com uma rentabilidade muito alta e ter uma ótima governança” afirma Júlio Souza, analista fundamentalista da Benndorf Research.
Em comentário sobre a companhia em setembro, Júlio acrescentou que a WEG tem uma política inovadora, sempre criando novas fontes de negócio, e consegue se manter muito competitiva no mercado.
JP Morgan, Citi e Credit Suisse concordam, recomendando compra das ações. Já o Goldman Sachs vai na direção oposta, recomendando venda.
Diferença entre perfis de investidores
Empresas de grande capitalização, como Petrobras, Vale e os bancos, “normalmente são a porta de entrada para investidores estrangeiros”, comenta Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research.
Os gringos têm sido os principais agentes do mercado brasileiro a ingressar com capital nos últimos meses.
Por outro lado, prossegue Niels, ações como as da Oi são as favoritas dos especuladores, dada a grande volatilidade, “que acaba abrindo oportunidades de curto prazo para traders”.
Um terceiro perfil enumerado pelo analista é o de companhias como a Taesa. A transmissora de energia elétrica, “que historicamente paga dividendos altos”, é um alvo tradicional de investidores de longo prazo “e que buscam o investimento em dividendos e renda passiva”.