A frase que dá título à coluna foi dita pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e movimentou o panorama do mercado na última semana.
Quando um governo deseja trilhar o caminho da irresponsabilidade fiscal, é muito comum ouvirmos expressões como “o povo não come bolsa” e “o povo não come dólar”, numa tentativa de justificar o injustificável e desqualificar a importância do mercado financeiro, enquanto se passa uma imagem de preocupação com os mais necessitados.
Confesso que esse tipo de discurso soa bonito, parece fazer todo sentido e não raramente arranca aplausos da plateia emocionada. Infelizmente, toda essa eloquência e aparente sensatez escondem um grande mal invisível para a maioria das pessoas e que é, em síntese, uma das principais causas de sermos tão pobres e irrelevantes no comércio global, apesar de tantas riquezas naturais.
O fato é que, sim, o povo come dólar!
Afinal, aquele pãozinho quente no café da manhã é feito de farinha de trigo, que é importada e fortemente afetada pelo câmbio…
Mas esse não é nem de longe o maior problema. O aumento da carne, da gasolina e do pãozinho, embora indesejados, nem se comparam ao efeito mais perverso dessa política suicida travestida de socialmente responsável.
O problema central é que o governo NÃO produz nada, e o dinheiro para financiar a máquina pública e fazer assistência social só tem duas fontes possíveis: impostos e dívida.
Ou o governo aumenta impostos ou toma dinheiro emprestado para financiar a gastança.
Toda vez que se aumenta impostos, o ambiente de negócios fica mais desafiador, as pessoas têm menos dinheiro disponível, consomem menos e, como consequência, as empresas vendem menos, contratam menos, as vezes até quebram, por isso o desemprego se mantém alto.
Do outro lado temos a via do endividamento. Por já ter aumentado muito os impostos, o governo emite dívida e, quanto mais dívida se emite, mais caros ficam os juros, pois, quanto mais um país aumenta seu endividamento, mais risco de não conseguir pagar essa dívida ele corre, e o mercado não aceita receber poucos juros para correr o risco de levar um calote.
Sendo assim, a via dos juros altos acaba no mesmo lugar da via do aumento de impostos, já que, com juros altos, o ambiente de negócios fica muito prejudicado. No fim o efeito disso é um só: DESEMPREGO!
E é por isso que a bolsa cai: as empresas passam a valer menos, já que vão ter lucros menores e deixarão de expandir seus negócios.
Não se trata do mercado financeiro malvado ficando chateado. Trata-se do valor das empresas, que deveriam gerar empregos e inclusão social, sendo destruído por políticos irresponsáveis.
Nos últimos 40 anos, a social democracia brasileira conseguiu a façanha de, em nome da ajuda aos mais necessitados, combinar essas duas vias e destruir qualquer chance que as pessoas necessitadas tinham de conseguir emprego, lançando a parcela mais pobre da população em uma condição de necessidade permanente, para que, fragilizada pela pobreza, se veja obrigada a votar em quem lhe prometa mais auxílios, ignorando que o custo dos auxílios é a perpetuação da pobreza por gerações e é pago pelos próprios assistidos via desemprego, inflação e aumento de impostos, fazendo com que jamais consigam ascensão social.
Condenar três ou quatro gerações futuras à pobreza é muito pior do que o aumento do pãozinho por causa do dólar!
Eu tenho certeza de que o brasileiro gosta, precisa e merece comer uma boa picanha sempre que quiser, mas ainda acredito fielmente que ele prefira fazer isso estando bem empregado e sendo capaz de custear os próprios prazeres da forma que quiser, quando e se quiser, com próprio salário, sem precisar do favor ou da anuência de nenhum burocrata de Brasília.