Roger Spitz, autor de “Disrupt with Impact”, livro que será lançado em setembro, prepara tomadores de decisão para lidar com o imprevisível.
Por Rafael Lehmkuhl
Quando soube que Roger Spitz estaria aqui em Blumenau para ministrar uma palestra sobre o tema, confesso que fiquei muito entusiasmado. Não apenas pelo vasto currículo e pelo lançamento de um novo livro, mas por se tratar de um tema que considero extremamente relevante.
Após conversar com Roger sobre esse assunto, ele me enviou, em primeira mão, o livro que será lançado agora em setembro de 2024, para que eu pudesse compartilhar com vocês alguns tópicos que vão diretamente ao encontro do que nos interessa.
O livro é dividido em quatro partes, sendo elas:
– A disrupção sempre existiu – O que é diferente agora?
– Como impulsionar a inovação sistêmica e a transformação.
– O futuro da inteligência artificial, da tomada de decisões estratégicas e da tecnologia.
– Liberte seu pensamento disruptivo.
Nas mais de 300 páginas, Spitz explora diversos temas e conceitos que normalmente não fazem parte das nossas conversas diárias, mas que certamente impactarão nossas vidas daqui para frente. Logo no início do livro, ele cita que “Netflix é ‘inovação disruptiva’, mas Uber não é”, mas você consegue imaginar sua vida diária sem eles?
A partir do momento em que temos acesso a certas tecnologias, elas começam a integrar nossa rotina de tal forma que não conseguimos mais imaginar viver sem elas. Pense em como nossa vida mudou muito mais nos últimos cinco anos do que nos quinze anos anteriores. E então, como será o mundo daqui a cinco, dez ou quinze anos?
Vimos profissões como leiteiro, cobrador de ônibus e digitadores praticamente serem extintas nos últimos, e começamos a ver desaparecer a necessidade de corretores de textos, recepcionistas, operador de telemarketing… por mais duro que possa parecer, a IA está só nascendo, e mesmo a versão mais básica já muda muita coisa.
Bom, é difícil abordar todos os temas importantes que o livro trata neste espaço, então vamos focar no que mais nos interessa aqui: nosso dinheiro! Com isso em mente, vamos direto ao capítulo 10, mais especificamente ao tópico em que Spitz trata sobre “Being AAA in the age of AI”.
A estratégia Barbell: fundamentos de um portfólio antifrágil
Antes de nos aprofundarmos no AAA Framework de Roger Spitz, é importante introduzir o conceito da Estratégia Barbell, popularizada por Nassim Nicholas Taleb.
A estratégia Barbell sugere alocar uma parte significativa do portfólio em ativos extremamente seguros e a outra em ativos altamente especulativos. Isso cria um equilíbrio onde, em situações de alta incerteza, o portfólio não apenas resiste a choques, mas pode tirar proveito de eventos inesperados.
Na prática, a parte conservadora do Barbell se beneficia do Efeito Lindy, que se refere à ideia de que coisas que existem há muito tempo têm uma maior probabilidade de continuar a existir. Isso reduz a necessidade de grandes ajustes ou preocupações constantes.
Em contrapartida, a parte agressiva do Barbell exige antecipação e agilidade para navegar em cenários de incerteza, como o falsificacionismo e a analogia do peru de Natal nos ensinam: precisamos estar sempre questionando nossas suposições e prontos para ajustar nossas posições rapidamente quando identificamos erros.
Como George Soros sabiamente afirma, “não importa se você está certo ou errado, e sim o quanto dinheiro você ganha quando está certo e quanto você perde quando está errado.” Este princípio destaca a importância de aceitar perdas e focar em minimizar prejuízos enquanto maximizamos ganhos.
AAA Framework: adaptando-se ao mundo imprevisível
No capítulo 10 de “Disrupt with Impact”, Roger Spitz apresenta o AAA Framework, um modelo projetado para ajudar os investidores e tomadores de decisão a permanecerem relevantes na era da IA e da incerteza contínua. Esse framework é composto por três pilares fundamentais:
Antifragilidade (Antifragile): este conceito, introduzido por Taleb, refere-se à capacidade de algo não apenas resistir ao caos e à volatilidade, mas se beneficiar desses elementos. Na prática, isso significa construir uma base sólida que não só sobreviva a choques, mas que se fortaleça com eles.
Para investidores, isso implica a necessidade de criar portfólios que possam tirar proveito da incerteza, minimizando perdas e maximizando oportunidades em tempos de crise. É aqui que a estratégia Barbell se alinha perfeitamente: ao combinar investimentos extremamente seguros com investimentos altamente arriscados, o portfólio se torna resistente a choques, mas também preparado para capturar grandes ganhos em situações imprevisíveis.
Antecipação (Anticipatory): O segundo pilar do framework foca em desenvolver uma mentalidade antecipatória, que permite aos investidores navegar pela incerteza ao prever possíveis futuros. Isso envolve a capacidade de detectar sinais fracos, desafiar suposições e preparar-se para mudanças não lineares.
Em termos práticos, a antecipação permite que investidores ajustem suas estratégias de acordo com as condições do mercado, mantendo-se à frente das mudanças e aproveitando oportunidades emergentes antes que se tornem óbvias para todos.
Agilidade (Agility): Finalmente, o terceiro pilar destaca a importância da agilidade – a capacidade de responder rapidamente a qualquer futuro que surja, enquanto concilia a visão preferida do futuro com a realidade imprevisível de hoje. Para os investidores, isso significa estar preparado para ajustar o portfólio conforme necessário, sem estar preso a estratégias fixas ou suposições ultrapassadas.
A agilidade permite que os investidores se adaptem rapidamente a novas informações e oportunidades, garantindo que seu portfólio continue a prosperar em um ambiente em constante mudança.
Disrupção e a destruição criativa
Ao longo do livro, Spitz aborda a ideia de disrupção sob a lente da destruição criativa de Schumpeter – processo pelo qual inovações destrutivas criam novos mercados e valores, enquanto substituem os antigos. Esse conceito é central para entender como a disrupção impacta não apenas empresas, mas também os portfólios de investimento, exigindo dos investidores uma mentalidade que combine a solidez da antifragilidade com a flexibilidade da agilidade.
Essa combinação de segurança e risco controlado é exatamente o que permite a um portfólio ser verdadeiramente antifrágil – ganhando força e se beneficiando dos choques que inevitavelmente surgem em um mundo cada vez mais imprevisível. E como descobri em minha dissertação, conseguir que tudo isto esteja conectado com os anseios dos tomadores de decisão, torna o processo significativo.
O texto trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.